Capítulo 39: A Cultura da Tininha – O Contraponto Suave
Capítulo 39: A Cultura da Tininha – O Contraponto Suave
A mistura que formou a nossa casa.
Dizem que os opostos se atraem, mas acredito que, na verdade, os opostos se completam. Eu sempre fui o homem dos números, da precisão alemã (ou húngara, para ser exato), das tabelas, da tecnologia e da resolução prática de problemas. Minha mente funcionava — e ainda funciona — como um diagrama de fluxo.
A Tininha era a poesia que quebrava essa minha prosa rígida.
A "cultura da Tininha" não se resumia apenas aos livros que ela leu ou à educação formal que recebeu. Era algo mais profundo. Era uma sabedoria de vida, uma sensibilidade brasileira e acolhedora que eu, com minha herança europeia e às vezes fria, precisava desesperadamente, mesmo sem saber.
Enquanto eu me preocupava em como as coisas funcionavam, ela se preocupava em como as pessoas se sentiam.
Ela trazia para dentro de casa uma riqueza de detalhes que, aos meus olhos de engenheiro, poderiam passar despercebidos. O cuidado com a mesa posta, a escolha das cores, a importância de manter certas tradições familiares que não eram obrigações, mas sim celebrações.
Havia nela uma elegância natural, não de ostentação, mas de postura. A Tininha sabia ser firme sem levantar a voz. Ela tinha aquela autoridade silenciosa das matriarcas, capaz de organizar a vida dos filhos (e a minha) com um olhar ou uma frase bem colocada.
Eu trouxe para o casamento a história da Hungria, os traumas da guerra e a vontade de vencer pela tecnologia. Ela trouxe a raiz, o chão firme, o senso de pertencimento e uma fé inabalável no cotidiano. Ela me ensinou que a vida não é feita apenas de grandes projetos e marcos históricos, mas da beleza das pequenas coisas: uma flor do roseiral que ela tanto amava, um café da manhã bem feito, uma conversa sem pressa.
Nossa casa se tornou um laboratório onde essas duas culturas se encontraram. Meus filhos, felizmente, herdaram um pouco de cada. Têm a minha curiosidade e a minha lógica, mas têm o coração e a percepção humana dela.
Muitas vezes, diante de um impasse no trabalho ou na vida, eu parava e pensava: "O que a lógica diz para fazer?". Hoje, muitas vezes me pergunto: "O que a sensibilidade da Tininha faria nesta situação?".
A cultura dela civilizou o meu lado mais bruto. Ela poliu a pedra bruta do imigrante e do engenheiro, ensinando-me que a maior tecnologia que existe ainda é o afeto.
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