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Capítulo 36 Invenções Húngaras – O Cubo, a Caneta e a Vitamina

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Capítulo 36: Invenções Húngaras – O Cubo, a Caneta e a Vitamina dezembro 11, 2025 Como engenheiro, sempre fui fascinado por como as coisas funcionam. E, como húngaro, carrego um orgulho discreto (ou nem tanto) de saber que meu pequeno país de origem deu ao mundo soluções gigantescas. A Hungria é uma fábrica de gênios inquietos. Talvez seja a dificuldade do idioma, que nos obriga a pensar de forma diferente do resto do mundo, ou a história de superação, mas o fato é que os húngaros inventam. Você já usou uma caneta esferográfica hoje? Agradeça a László Bíró. Antes dele, escrever era uma arte de manchar os dedos com tinta tinteiro. Bíró colocou uma esfera na ponta e mudou a escrita mundial. Chamamos de "caneta BIC" no Brasil, mas na Argentina, até hoje, chamam de "Birome" em homenagem a ele. E o Cubo Mágico? O pesadelo e o deleite de qualquer mente lógica. Ernő Rubik não queria criar um brinquedo; ele queria criar um modelo para explicar geometria tridimensional. ...

Capítulo 37: A Coleção que Ninguém Vê

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Capítulo 37: A Coleção que Ninguém Vê Capítulo 37: A Coleção que Ninguém Vê dezembro 11, 2025 Falei muito sobre minhas coleções visíveis: os selos coloridos da Magyar Posta , os componentes eletrônicos da minha época de engenharia, e até as plantas na minha estufa. Mas, chegando aos 69 anos, percebo que minha coleção mais valiosa é aquela que não cabe em nenhum álbum e que o algoritmo do banco não consegue escanear. É a "Coleção que Ninguém Vê". Eu coleciono o brilho no olho da criança quando puxa minha barba e descobre que é de verdade. Coleciono o alívio no rosto de um paciente do TFD quando consigo resolver um transporte difícil. Coleciono os momentos de silêncio cúmplice com a Tininha nas madrugadas de insônia. Coleciono também os sons: o barulho da máquina de telex , o riso dos meus filhos Jorge e Daniel correndo pela casa em Guarulhos , e até o latido da Natalia e da B.B.. Essa coleção não tem valor de mercado. Não posso deixá-la de herança em um testamen...

Capítulo 35: Meus Pais Recém-Casados – O Amor em Tempos de Reconstrução

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Capítulo 35: Meus Pais Recém-Casados – O Amor em Tempos de Reconstrução dezembro 11, 2025 Antes de eu pensar em me casar com a Tininha, tive o privilégio de observar o "manual de instruções" ao vivo: o casamento de Johann e Dora. Muitas vezes, romantizamos a história dos imigrantes, focando apenas na jornada heroica da Europa para o Brasil. Mas esquecemos de olhar para a intimidade do casal que, de repente, se viu sozinho em um continente estranho. Meus pais, recém-casados, não trouxeram na bagagem apenas roupas e a cultura húngara; trouxeram a responsabilidade de reconstruir um sobrenome — Purgly — a partir do zero. Imagino a Dona Dora, com sua elegância europeia, aprendendo a lidar com o clima tropical, com os ingredientes brasileiros que não se comportavam como os da Hungria na hora de fazer o Goulash ou o Beigli. Imagino o Seu Johann, com sua postura nobre, enfrentando o mercado de trabalho brasileiro, muitas vezes tendo que aceitar posições abaixo de sua capacidade p...

Capítulo 34: Guarulhos da Minha Infância – A Poeira e o Progresso

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Capítulo 34: Guarulhos da Minha Infância – A Poeira e o Progresso Capítulo 34: Guarulhos da Minha Infância – A Poeira e o Progresso dezembro 11, 2025 Se a escola e a mão esquerda "errada" moldaram minha disciplina interna, foi a cidade de Guarulhos que moldou meu cenário externo3. Hoje, quem pousa em Cumbica vê uma metrópole de concreto e asfalto, mas a Guarulhos que habita minha memória tem a cor da terra vermelha. Eu cresci junto com a cidade. Éramos ambos "projetos em construção". Lembro-me vividamente das ruas de terra batida, onde o progresso chegava levantando poeira. Não havia o trânsito caótico de hoje; havia espaço. Espaço para correr, para imaginar e para ver o horizonte. A vida social e educacional girava em torno de instituições que eram verdadeiros templos do saber, como o Ginásio Estadual Conselheiro Crispiniano e o lendário Ginásio Fioravante4. O Fioravante não era apenas uma escola; era o palco onde a juventude guarulhense se encontrava. Ali, entr...

Capítulo 50 - O Terno Branco e a Água da Promessa – Meu Batismo Mórmon

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Capítulo 50 - O Terno Branco e a Água da Promessa – Meu Batismo Mórmon A busca pela ordem e a eternidade da família. Minha jornada espiritual sempre foi marcada por uma curiosidade inquieta. Fui da física quântica à quiromancia, dos templos indianos cheios de cores e cheiros à sobriedade da engenharia. Mas houve um momento em que minha alma não pediu expansão; pediu estrutura. Pediu uma resposta clara sobre o que acontece com as famílias depois desta vida. Foi assim que encontrei — ou fui encontrado por — A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, os Mórmons. O primeiro contato geralmente acontece com dois jovens de camisa branca, gravata e um crachá preto, caminhando sob o sol quente com uma determinação invejável. Para mim, acostumado à disciplina da Siemens e ao respeito pela hierarquia, aquela postura dos "Elders" me chamou a atenção. Havia ali uma ordem, uma educação e uma certeza que eram magnéticas. O que me conquistou na doutrina deles não foi apenas a ...

Capítulo 49: A Índia e o Choque do Sagrado – Entre o Incenso e o Esterco

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Capítulo 49: A Índia e o Choque do Sagrado – Entre o Incenso e o Esterco Onde aprendi que pureza é um conceito relativo. Falar que fui à Índia buscar espiritualidade soa clichê. Muita gente vai. Mas a Índia que eu encontrei não foi apenas a dos templos dourados e dos gurus em estado de lótus. Foi a Índia crua, orgânica e desafiadora para um ocidental. Para um engenheiro criado com padrões de higiene germânicos, onde tudo deve ser esterilizado, azulejado e desinfetado com cloro, a Índia não é um país; é um tapa na cara. O choque começa assim que você sai do aeroporto. Os cheiros, as cores, o barulho. Mas nada me preparou para a relação deles com a Vaca. Sabemos que a vaca é sagrada. Mas saber é uma coisa; ver a "santidade" na prática é outra. E a prática envolve tudo o que vem da vaca. Tudo mesmo. Inclusive o que nós, no Ocidente, chamamos de sujeira: o esterco (cocô) e a urina (xixi). Lembro-me da primeira vez que vi mulheres amassando esterco fresco com as próprias mãos ...

Capítulo 48 - O Mapa na Palma da Mão – A Engenharia do Destino

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Capítulo 48 - O Mapa na Palma da Mão – A Engenharia do Destino Onde a anatomia encontra a intuição. Se você disser a alguém que um engenheiro da Siemens, acostumado com plantas industriais e cálculos de energia, lê mãos, a primeira reação costuma ser de ceticismo. "Isso não é ciência", diriam os acadêmicos. "Isso é crendice", diriam os religiosos mais rígidos. Mas, para mim, a Quiromancia (a leitura de mãos) nunca foi sobre adivinhar o futuro em uma bola de cristal. Foi, curiosamente, mais um exercício de análise de dados. Minha história com a leitura de mãos começou não como um dom sobrenatural que caiu do céu, mas como uma curiosidade intelectual. Eu olhava para as mãos — minhas próprias e as dos outros — e via padrões. Como engenheiro, fui treinado para acreditar que na natureza nada é aleatório. Se existem linhas, montes, texturas e formas, existe uma razão. Comecei a estudar. Li livros antigos, comparei teorias. E o que descobri fez todo o sentido para a m...