Capítulo 35: Meus Pais Recém-Casados – O Amor em Tempos de Reconstrução

Capítulo 35: Meus Pais Recém-Casados – O Amor em Tempos de Reconstrução
dezembro 11, 2025 Antes de eu pensar em me casar com a Tininha, tive o privilégio de observar o "manual de instruções" ao vivo: o casamento de Johann e Dora. Muitas vezes, romantizamos a história dos imigrantes, focando apenas na jornada heroica da Europa para o Brasil. Mas esquecemos de olhar para a intimidade do casal que, de repente, se viu sozinho em um continente estranho. Meus pais, recém-casados, não trouxeram na bagagem apenas roupas e a cultura húngara; trouxeram a responsabilidade de reconstruir um sobrenome — Purgly — a partir do zero. Imagino a Dona Dora, com sua elegância europeia, aprendendo a lidar com o clima tropical, com os ingredientes brasileiros que não se comportavam como os da Hungria na hora de fazer o Goulash ou o Beigli. Imagino o Seu Johann, com sua postura nobre, enfrentando o mercado de trabalho brasileiro, muitas vezes tendo que aceitar posições abaixo de sua capacidade para garantir o pão. Mas o que mais me marca nessas memórias não é a dificuldade, e sim a cumplicidade. Eles eram uma ilha um para o outro. Quando o português falhava ou a saudade de Jószás apertava, eles tinham um ao outro. Vi neles o que é o verdadeiro companheirismo. Não aquele das festas e da bonança, mas o do silêncio compartilhado no final de um dia exaustivo. Eles me ensinaram que casamento não é apenas paixão; é um pacto de sobrevivência e crescimento. Eles transformaram a dor do exílio na argamassa que construiu a nossa família no Brasil. Se hoje sou o homem que sou, é porque sou o fruto desse amor resiliente, que floresceu mesmo tendo sido transplantado de solo.

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